A História Urbana do Presente nas Disciplinas de História Contemporânea das Graduações Presenciais em História de Salvador.
Raphael Fontes Cloux[1]
1 Introdução
A presente pesquisa tem por objetivo investigar e analisar nos cursos presenciais de história das faculdades e universidades de Salvador (Bahia) as disciplinas História Contemporânea e as possíveis disciplinas História Urbana do Presente ou História Urbana. Com o intuito de verificar a existência ou inexistência do campo de estudo história urbana do presente nos currículos das referidas graduações.
A importância desta pesquisa reside no fato da necessidade de diagnosticar se os cursos de história das faculdades e universidades de Salvador estão tendo o comprometimento em investigar os acontecimentos nas cidades. Há algum tempo o conservadorismo dentro dos cursos de história inibe pesquisas que se pautem na história urbana do presente.
Ao diagnosticar a existência, ou não, da disciplina História Urbana do Presente ou de seus conteúdos, a história e a educação estarão, lado a lado, salientando para seus profissionais a necessidade constante de uma revisão e de uma discussão permanente dos currículos dos cursos que formarão futuros professores e pesquisadores.
O estudo da problemática urbana, mesmo no momento presente, pode ser empreendido por geógrafos, urbanistas, sociólogos, mas, também por historiadores. Evidente aqui que o objetivo desta pesquisa não é retirar este campo de das outras ciências, mas, ao contrário, incluí-lo para o ofício do(a) historiador(a).
A partir da elaboração da problemática: Existe nas disciplinas de História Contemporânea das graduações em História de Salvador o conteúdo da História Urbana do Presente? A investigação tentará responder à indagação a partir de alguns objetivos específicos, tais como: a) Verificar uma definição conceitual da disciplina História Urbana do Presente; b) Investigar as disciplinas de História Contemporânea, História Urbana e História Urbana do Presente nas graduações de História; c) Analisar as ementas das disciplinas em questão.
2 Definição conceitual de História Urbana do Presente
Pretende-se neste trabalho analisar os currículos do curso de História em Salvador, verificando a existência, ou não, da disciplina História Urbana do Presente ou de seus conteúdos. Entendendo a História Urbana do Presente enquanto um campo de pesquisa que se assemelha aos conceitos de “história do presente”, ou “história do tempo presente” como propõe Eric Hobsbawn em Sobre História, ou, ainda, “história imediata” de Jean Lacouture.
Conceitos muito próximos que, em linhas gerais, propõem a análise do tempo presente compreendendo-o enquanto integrante de uma dinâmica processual da sociedade. Onde o passado não é um conjunto de acontecimentos estéreis que possuem um fim em si próprios, ao contrário, fazem parte da constituição do momento presente, porém, sem necessariamente determiná-lo. Na medida em que a história do presente também é uma história “viva”, em construção pelos diversos atores e atrizes que a compõem.
A “história do presente” não é necessariamente a história contemporânea, mas ao mesmo tempo também tem nela suas origens e recorre à mesma durante o processo investigativo. Mas, também, não é jornalismo, pois não se propõe somente a explicações pontuais do mundo fenomênico. De um lado não é o estudo da contemporaneidade interrompida até os anos mais próximos, como o estudo, por exemplo, da queda do muro de Berlim até a ascensão do ex-presidente (supostamente) social-democrata Fernando Henrique Cardoso no Brasil. Por outro, não é só uma coletânea de fatos e acontecimentos reunidos e explicados parcialmente numa análise jornalística.
O estudo da história do presente constitui, de acordo com nossa compreensão, uma análise dialética do momento atual, onde se pressupõe compreender as raízes históricas de sua formação, as contradições do momento em que é construída, as forças hegemônicas e contra-hegemônicas que conspiram para sua elaboração, porém sem ter a certeza do desfecho. Apenas com a possibilidade de prognósticos, de hipóteses do vir a ser.
O que em si não constitui uma limitação, convém relembrar A História da Revolução Russa, de Leon Trotsky, onde poucos anos após seu “ocorrido” o autor faz uma análise histórica de suas origens, de suas possibilidades, de seu acontecimento e de seus significados. Introduzindo, inclusive, uma carga analítica que disputava uma avaliação sobre os impactos e significados da mesma para o povo russo.
Mais um exemplo da importância de uma abordagem histórica do presente é a interpretação dos conflitos que ocorrem entre os israelenses e os palestinos. Sem uma retrospectiva histórica, fincada inclusive na história antiga, não seria possível compreender os motivos que fazem esse conflito atravessar milênios.
Para Hobsbawn, autor de vertente marxista, a “história do tempo presente” é uma decorrência direta da história contemporânea. Chega inclusive a generalizar a história, numa alusão a indissociabilidade entre passado e presente: “Já se disse que toda história é história contemporânea disfarçada.” (HOBSBAWN.p.243). O autor indica, ainda, algumas limitações que podem influir no procedimento investigativo desta abordagem: a) a “data de nascimento” do autor (sua geração), b) como a perspectiva particular do passado pode mudar enquanto procedimento histórico, c) a influência das suposições do senso comum da geração na análise do objeto.
São três aspectos muito próximos que circulam a objetividade e subjetividade do autor-ator. Diferente de outros momentos históricos o autor está imerso naquela realidade, sendo por tanto um dos atores. O cientista não poderá se comportar como uma espécie de “extraterrestre” em seu próprio planeta, ou seja, também está passivo de uma carga subjetiva no desenrolar de sua análise.
Uma influência que tem marcas do acúmulo cultural específico de sua geração, não podemos afirmar que as crianças dos grandes centros urbanos de hoje terão a mesma interpretação de mundo das que viveram no período final da ditadura militar. As mudanças sociais, a liberdade de imprensa e as modificações tecnológicas criaram (ou criam) um impacto na mentalidade dessa geração que só poderá se mensurar daqui a algumas décadas.
Da mesma maneira a influência de suposições do senso comum, e da própria mídia, ajudam a criar uma “idéia geral” sobre determinados acontecimentos recentes. Por exemplo, a geração da década de 1980 tem em sua mentalidade que a queda do muro de Berlim significou o fim das utopias socialistas, o que não se vem comprovando com os últimos acontecimentos na América Latina.
De acordo com Jean Lacouture, a história do imediato é o conjunto de “... obras escritas na esteira do acontecimento por seus atores.” (in LE GOFF.p.216). Este conceito é exposto na conhecida coletânea de Jacques Le Goff, onde há uma reunião de um conjunto de proposições referentes aos domínios, temas e correntes da historiografia, organizadas sob o título Nova História.
Esta coletânea, influenciada pela Revista dos Annales (de Braudel, Bloch e Febvre), reúne, em geral uma vertente muito crítica ao positivismo, admitindo a indissociabilidade da subjetividade no conhecimento científico, a renovação da problemática da historiografia, a afirmação de ciências que se encontravam “marginais” no período da publicação da obra (como a antropologia), e a interdisciplinaridade (como explana o próprio LE GOFF em seu artigo na referida coletânea).
De certo não há uma cumplicidade direta da Nova História com o materialismo histórico-dialético, em certa medida um tom crítico margeia o debate, porém, categorias, conceitos marxistas, podem ser observados na metodologia de análise histórica desta corrente. Ao menos naquela geração, o que vem sendo abandonado progressivamente até a atualidade, principalmente com a imersão nos pressupostos teóricos pós-modernos.
Jean Lacouture cita importantes obras, que, no momento de suas publicações, podem ser consideradas referenciais para a história imediata, como: A História da Revolução Russa, de Leon Trotski; A Estranha Derrota, de Marc Bloch; e, Thorez, de Philippe Robrieux.
Além do conceito de História do Presente, outro a ser utilizado neste trabalho é o de História Urbana proposto por Ronald Raminelli. A História Urbana não é, necessariamente, História do Presente, a mesma refere-se ao domínio das Cidades, ao seu estudo. Seja do ponto de vista de uma abordagem da compreensão da origem e formação, seja da compreensão dos novos problemas ocasionados pela metropolização, ou mesmo os oriundos do neoliberalismo.
Raminelli em seu artigo na tradicional obra organizada pelo historiador Ciro Flamarion Cardoso, Domínios da História, faz um breve histórico dos principais autores que contribuíram para o desenvolvimento deste ramo do conhecimento. Destaca historiadores e não-historiadores (do ponto de vista formal) mas que assumiram em grande medida o ofício; dentre eles: o pioneiro Fustel de Coulanges com sua obra A Cidade Antiga, de 1864; Max Weber, que realizou ao longo de sua vida (1864-1920) estudos comparativos entre cidades da China, Índia e Grécia; Henri Pirenne, em 1927, com a obra As cidades da Idade Média; George Simmel, que estudou a problemática do individualismo e o comportamento na vida das metrópoles (1858-1918); Walter Benjamin (1892-1940) que:
“... criou uma metodologia capaz de ver ‘um mundo nos detalhes do cotidiano’ e, mais uma vez se aproximou de Simmel quando o sociólogo concebeu a cidade como um fato cultural, um caldeirão de experimentos. Porém o discípulo superou o mestre e concebeu os detalhes como portadores do passado e do presente.” (in CARDOSO.p.197).
Dob e Herlihy, também são citados no retrospecto feito. Sendo que Raminelli evidencia três grandes problemas, identificados por Herlihy, para os quais a escrita da história urbana na atualidade deverá se debruçar:
“1) As funções da cidade e seu vínculo com o fomento da urbanização;
2) Os efeitos da vida urbana sobre os ciclos vitais dos indivíduos, sobre o trabalho e a família;
3) As mudanças espaciais e ecológicas na cidade, provocadas pelo desenvolvimento econômico e social.” (in CARDOSO.p.189)
É certo que, dos autores citados, o que efetivamente utiliza o método materialista histórico é Hobsbawn. Os demais, em certa medida, utilizam conceitos e/ou categorias deste pensamento, como a interdisciplinaridade, a crítica ao conhecimento objetivo apartado da subjetividade (neutralidade axiológica), e a crítica ao conservadorismo dos campos de conhecimento da ciência.
Para Hobsbawn existem dois aspectos importantes para se estabelecer uma crítica mais contundente ao pensamento pós-moderno. Encarado aqui enquanto uma corrente de pensamento, não necessariamente auto-organizada, mas que defende uma concepção de mundo e uma interpretação de ciência que são subprodutos de uma ideologia neoliberal. O primeiro ponto é o do questionamento da objetividade do conhecimento. A influência de um relativismo é tamanha que a necessidade do conhecimento ser científico é posta em cheque. Não questiona mais a suposta “neutralidade axiológica”, mas se questiona se é necessário que o conhecimento tenha uma intencionalidade interpretativa e universal.
Exemplo deste tipo de produção na historiografia é o livro de ARAÚJO (2006). Onde uma coletânea de memórias pessoais é escrita com a tentativa de reconstruir a história da imigração estrangeira para o estado do Piauí; mas que acaba por ser útil apenas para a satisfação do ego dos autores e de suas famílias. Não há qualquer universalidade que permita àquele conhecimento ser útil para a sociedade.
O outro ponto é a falta de interpretação unificada do conhecimento. Há uma intencionalidade, no pensamento pós-moderno, de uma análise fragmentada, sem qualquer interação com uma outra dinâmica também “micro”, ou mesmo uma dinâmica mais geral. No mesmo exemplo citado anteriormente, o que se observa é uma “colcha de retalhos”, de fragmentos aglutinados que não interagem nem entre si.
Certamente que não se pretende aqui cometer anacronismos, nem tão pouco submeter esta pesquisa a modelos pré-moldados. Trata-se de buscar nas contribuições de Marx e Engels não, necessariamente, suas respostas, que são datadas e em certos momentos chocam com a realidade atual; mas as suas perguntas, suas indagações, ou seja, o seu método. De acordo com Hobsbawn (p.175), “... a concepção materialista da história é a base da explicação histórica, mas não a explicação histórica em si.”
3 A legislação do Ministério da Educação sobre as Definições Curriculares
3.1 Sobre os tipos de conteúdos curriculares
A pretensão deste trabalho não é, necessariamente, a de um estudo pormenorizado sobre a questão dos currículos das faculdades e universidades onde serão pesquisadas as disciplinas História Urbana do Presente e História Contemporânea. Faremos apenas uma análise das disciplinas em si, recorrendo, em alguns momentos, a definições curriculares das Diretrizes Curriculares Nacionais (aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação no dia doze de dezembro de 2001), além de algumas bibliografias sobre o assunto.
De acordo com Vasco Moretto os currículos das graduações das Instituições de Ensino Superior no Brasil, seguem basicamente três tipologias de conteúdos. Sendo eles: conteúdos conceituais e factuais, procedimentais e, atitudinais.
O primeiro tipo é subdividido pelo autor em duas vertentes, os factuais que se referem, como o próprio nome já diz, a fatos, momentos históricos e conteúdos geográficos, ligados a demografia, topografia ou relevo. Estes possuem uma característica, segundo o autor, essencialmente descritiva. Abaixo percebe-se uma definição do próprio Moretto:
“Por conteúdos factuais compreendemos os conhecimentos relativos a fatos, acontecimentos, situações, fenômenos socialmente construídos e diretamente observáveis etc. O caráter desses conteúdos é eminentemente descritivo. A descrição da disposição das ocas dos índios e da forma de sua construção tipifica um conteúdo factual. Outro exemplo seria a descrição do contexto geográfico onde ocorreu a Guerra de Canudos, com indicação descritiva de datas, de pessoas, de vestimentas, dos locais etc. Devemos ressaltar a importância da aprendizagem dos conteúdos factuais, uma vez que eles passam a constituir o contexto para uma situação complexa a ser abordada. Assim, sua importância relaciona-se ao contexto da situação e não aos conteúdos em si mesmos.” (MORETTO,p.87)
No tocante aos conteúdos conceituais, o autor destaca que são aqueles pertinentes à delimitação de definições e conceitos sobre os conteúdos, em geral, factuais. Em termos de estudos históricos, seriam as disciplinas que trabalham com as discussões e definições teóricas, tanto ao que concerne ao estudo propriamente dito da história, quanto aos conceitos que porventura sejam adotados na explicação ou descrição dos fenômenos históricos. Ou, pelas palavras de Moretto:
“Por conteúdos conceituais entendemos aqueles que constituem o conjunto de conceitos e de definições relacionados aos saberes socialmente construídos. Assim, se a situação a ser estudada é a ocupação territorial em uma determinada região, é importante saber o que seja densidade demográfica, migração interna, ‘terras improdutivas’ etc.” (MORETTO,p.87)
Na segunda tipologia entendemos que os conteúdos procedimentais são conteúdos que versam sobre os procedimentos da habilitação em questão. Por exemplo, se sobre a pesquisa, o bacharelado versará sobre os procedimentos para a produção científica daquela área. Se para sala de aula, a licenciatura discutirá os métodos, práticas e teorias de ensino e aprendizagem.
“Um conteúdo procedimental – que inclui entre outras coisas as regras, as técnicas, os procedimentos, as destrezas ou habilidades, as estratégias, os procedimentos – é um conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a realização de um objetivo.” (MORETTO,p.80)
A última tipologia de conteúdos, os atitudinais, refere-se a conteúdos que proporcionem a atitude dos educandos, como uma postura crítica e participativa frente ao mundo em que vivem. Estes conteúdos não estão, necessariamente, vinculados a disciplinas específicas, mas podem ser trabalhados de forma interdisciplinar e/ou dentro das próprias disciplinas.
“Quando se fala em conteúdos atitudinais, não são conteúdos a serem trabalhados isoladamente, mas no contexto dos outros vistos no processo de ensino. Um professor que programa um estudo de grupo com seus alunos trabalha com eles a necessidade da cooperação de cada um para que todos usufruam a participação do grupo. Este trabalho de formação poderá criar em cada aluno a atitude de cooperação, isto é, uma predisposição para a participação cooperativa sempre que tiver que trabalhar em grupo.” (MORETTO,p.91)
O conteúdo que estamos pesquisando, história urbana do presente, tem uma maior inclinação, dentro da definição exposta primeiramente, ou seja, de conteúdo factual. Principalmente pelo seu caráter informacional, ou seja, de levantar estudos referentes à problemática urbana, do cotidiano das cidades em seu momento atual. Porém não só o caráter descritivo predomina este tipo de conteúdo, de acordo com Moretto, também há o tom explicativo e analítico. Entender um processo que tem culminância no presente não se restringe a um levantamento empírico de fatos, mas a depuração dos mesmos.
Não podemos deixar também de perceber um certo caráter conceitual no conteúdo história urbana do presente, apesar da factualidade hegemonizar. Porém, a própria definição inovadora desta vertente de conteúdo para a historiografia precisa de uma maior delimitação conceitual, assim como que para o entendimento dos processos urbanos atuais são necessários conceitos e teorias.
3.2 Sobre os documentos oficiais do Conselho Nacional de Educação na orientação curricular dos cursos de graduação
Em pesquisa realizada sobre as normas que regulamentam e orientam o funcionamentos dos cursos de graduação em história nas Instituições de Ensino Superior do Brasil, encontramos, para além da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9.394 de 1996) – que se constitui enquanto um documento-lei mais abrangente –, os pareceres e resoluções do Conselho Nacional de Educação – CNE (órgão subordinado ao Ministério da Educação – MEC).
Os pareceres e resoluções que versam sobre os currículos das graduações, de acordo com o portal eletrônico do MEC, são os de número: 242 (de 2006), 223 (de 2006), 184 (de 2005), 400 (de 2005), 329 (de 2004), 210 (2004), 136 (de 2003), 108 (de 2003), 67 (de 2003), 109 (de 2002), 583 (de 2001), 776 (de1997), 492 (de 2001), 1.363 (de 2001), e a resolução 13 (de 2002).
Terão maior relevância para este estudo os de número: 583 - que versa sobre a orientação para as diretrizes curriculares de graduação (de 2001); a resolução 13 - que estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de História (de 2002); o parecer 1.363 - que faz a retificação do parecer 492/2001 e trata das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, dentre outros cursos; e, o parecer 492 (de 2001) - que trata das mesmas questões do anterior.
De acordo com o parecer 583 (de 2001) a Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9.394 de 1996 – assegura uma maior flexibilidade na formulação e elaboração dos currículos de graduação, possivelmente com uma tendência à maior respeitabilidade às dinâmicas regionais do país e às Instituições de Ensino Superior. Uma tendência também ao atendimento às mudanças dos perfis dos profissionais em suas respectivas áreas de trabalho, além de uma tentativa de desburocratização do sistema de regulamentação do ensino.
“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394, de dezembro de 1996, assegura ao ensino superior maior flexibilidade na organização curricular dos cursos, atendendo à necessidade de uma profunda revisão de toda a tradição que burocratiza os cursos e se revelaincongruente com as tendências contemporâneas de considerar a formação em nível de graduação como uma etapa inicial da formação continuada; bem como à crescente heterogeneidade tanto da formação prévia como das expectativas e dos interesses dos alunos.”
(Parecer Número 583 de 2001 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Esta tendência à liberalização das definições curriculares em oposição à definição de currículos mínimos ocorridas anteriormente fica nítida no trecho abaixo da Lei de Diretrizes e Bases - LDB, no artigo 53:
“No exercício de sua autonomia, são assegurado às universidades, sem prejuízos de outras, as seguintes atribuições: ... II – fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes ...” (LDB in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
O Parecer 583 ainda ratifica o que foi estabelecido pelo Parecer 776 de 1997, onde o mesmo regulamenta as flexibilizações estabelecidas genericamente pela LDB. Neste parecer podemos perceber sete itens que fornecem as orientações gerais para as diretrizes curriculares. No primeiro tópico assegura a ampla autonomia para as instituições de ensino na definição de carga horária e em quais unidades serão ministradas as disciplinas. No segundo tópico, limita em no máximo cinqüenta por cento o limite para a definição de disciplinas específicas, sejam das dinâmicas regionais ou da própria instituição. No seguinte, não permite o prolongamento “desnecessário” da graduação, uma preocupação possivelmente com o Plano Nacional de Educação, lançado em 2008, após a LDB, onde fixa uma ampliação de graduados e pós-graduados no país – neste sentido, ampliar o tempo de graduação seria ir contra esta meta.
“1) Assegurar às instituições de ensino ampla liberdade na composição da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como na especificação das unidades de estudo a serem ministradas;
2) Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendizagem que comporão os currículos, evitando ao máximo a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias pré-determinadas, as quais não poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos;
3) Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação;” (Parecer Número 583 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
No tópico quatro, além da preocupação com a formação geral do graduado, tanto para o aspecto profissional quanto para o acadêmico, é inserida a possibilidade de uma formação variada e com habilitações diferenciadas. No quinto tópico, o Parecer destaca a relevância de uma ampliação da autonomia intelectual e profissional do graduado, podendo destacarmos daí a possibilidade de um maior incentivo às práticas de pesquisa, extensão e ampliação dos estágios. No item seguinte, percebe-se um estímulo a uma formação que tenha imersão em outros ambientes, distintos da universidade, no intuito de aprimorar um conhecimento mais diversificado e prático. No último tópico, um destaque para a articulação entre o conhecimento teórico e o prático.
“4) Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa;
5) Estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva autonomia profissional e intelectual do aluno;
6) Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se refiram à experiência profissional julgada relevante para a área de formação considerada;
7) Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão.” (Parecer Número 583 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Mais especificamente sobre a graduação em história, a Resolução 13, de 2002, estabelece junto com o Parecer 1.363 (de 2001) e o Parecer 492 (de 2001) as Diretrizes Curriculares para os cursos de História. O Parecer 492 define de forma genérica para os cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia; já a Resolução 13 restringe-se ao curso de História.
O texto destes últimos documentos é basicamente o mesmo, sofrendo apenas uma pequena alteração na definição dos cursos. Além de ratificar que o Parecer 492 deverá orientar a formulação do projeto pedagógico do referido curso, é, ainda, composto por oito itens. Onde o projeto político pedagógico do curso de História deverá explicitar:
“a) o perfil dos formandos nas modalidades bacharelado e licenciatura;
b) as competências e habilidades – gerais e específicas a serem desenvolvidas;
c) as competências e habilidades específicas a serem desenvolvidas na licenciatura;
d) a estrutura do curso, bem como os critérios para o estabelecimento de disciplinas obrigatórias e optativas do bacharelado e da licenciatura;
e) os conteúdos curriculares básicos e conteúdos complementares;
f) o formato dos estágios;
g) as características das atividades complementares;
h) as formas de avaliação.”
(Resolução Número 13 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Sobre o Parecer 492, é o documento que mais detalha como deve ser um currículo de História. Certamente por ser seu objetivo principal o de estabelecer as Diretrizes Curriculares Nacionais para, dentre outros, a graduação em questão. O documento apenas não regulamenta a duração dos cursos, pois foi entendido pelos relatores que esta decisão não teria um caráter de Parecer, e sim de Resolução.
De acordo com este documento, a finalidade do mesmo é substituir as determinações fixadas pelo antigo sistema de currículos mínimos, onde as instituições não detinham ampla autonomia e liberdade para realizarem a composição de seus cursos. Resquícios de um processo político não democrático, centralizador e burocrático do Regime Militar.
“Este texto apresenta-se como proposta cuja finalidade é substituir o currículo mínimo dos cursos de Graduação em História, que fornecia os parâmetros básicos a sua organização no contexto da antiga Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.” (Parecer 492,p.05 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
De acordo com este parecer, os “currículos mínimos” não eram capazes de estabelecer um curso com capacidade de profissionalização de seus graduandos. Nem, tão pouco, estabelecia um cotidiano de pesquisa dentro da área de conhecimento, tanto entre professores, quanto com alunos. Explica ainda que a partir da década de 1970, com a proliferação de Programas de Pesquisa e Pós-graduação, assim como a difusão de publicações e periódicos, houve uma sensível modificação da realidade do profissional.
“A época inaugurada pela década seguinte, entretanto, em função de mudanças que se davam no seio da área de conhecimento e de transformações institucionais importantes – surgimento e expansão do regime de dedicação exclusiva, implantação progressiva de um sistema nacional de Pós-graduação em História, aparecimento de um sistema consistente e permanente de bolsas de pesquisa para professores e alunos, mais tardiamente uma proliferação das revistas e outras publicações especializadas -, foi marcada por passos muito importantes no sentido da profissionalização dos historiadores e da consciência da necessária indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão na Universidade, ponto posteriormente transformado em preceito constitucional. Eis aí algumas razões que explicam ter-se transformado o antigo currículo mínimo em um instrumento arcaico, acanhado e em descompasso com os progressos do setor.” (Parecer 492,p.05 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Dentro das novas preocupações que nortearam a formulação do Parecer 492, encontra-se o entendimento da necessidade de uma formação mais ampla. Que abraçasse não só as tradicionais áreas da licenciatura e do bacharelado, mas outras, onde cada vez mais se encontram historiadores exercendo diversas atividades. Como por exemplo na área de Patrimônio Histórico-cultural, na arqueologia, no comentário jornalístico e, mesmo, na consultoria para ambientação histórica de filmes e novelas.
“... pessoas formadas em História atuam, crescentemente (e a lista a seguir é seletiva e incompleta): em institutos de pesquisa que não desenvolvem atividades de ensino; realizando pesquisas ligadas a questões vinculadas ao patrimônio artístico e cultural, à cultura material (associação Arqueologia/História, atuação em museus) ou a serviço dos meios de comunicação de massa (imprensa, televisão etc); funcionando em assessorias culturais e políticas também; trabalhando na constituição e gestão de banco de dados, na organização de arquivos e em outras áreas de um modo geral ligadas à reunião e preservação de informações.” (Parecer 492,p.06 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
A reforma promovida por este documento, consiste, também, em uma ruptura de paradigmas tanto no aspecto da profissionalização do graduado, mas, ainda, uma redefinição dos domínios deste ramo científico. Percebemos que há uma preocupação, por um lado com o domínio de técnicas de análise iconográfica, audiovisual e utilização de novas tecnologias de ferramentas de texto e hipertexto. Como podemos ver abaixo:
“Se a forma discursiva continua sendo o meio mais usual de expressão entre historiadores, o domínio de técnicas de análise semântica ou semiótica aplicadas a diferentes linguagens (textual, iconográfica, audiovisual etc), a possibilidade de elaborar vídeos e CD-ROMs ao lado dos textos tradicionais, em certos casos (como por exemplo em História Econômica e em Demografia Histórica) o manejo da estatística e de simulações complexas utilizando o computador, vieram a ser corriqueiros. Tornava-se cada vez mais urgente, portanto, um aggiornamento na formação de graduação em História.” (Parecer 492,p.06 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Por outro lado, a ruptura de paradigma se dá com os conteúdos e domínios da própria história. Percebe-se que há uma gradativa ampliação dos conhecimentos históricos, sem que os mesmos percam sua própria identidade original. Ou seja, a influência não só da economia e da sociologia, mas também da antropologia, da geografia, do urbanismo, permitem uma maior sensibilidade dos historiadores com questões antes relegadas apenas a estas outras áreas de conhecimento. A história passou a trazer para si, também, a discussão da cultura, dos problemas regionais, da dinâmica das cidades, em várias periodizações.
Apesar desta reflexão, o Parecer 492 não determina, nem obriga, a ênfase em determinados aspectos redefinidos pelos historiadores. Ao contrário, percebe as modificações, e em alguns casos as permanências, e possibilita uma autonomia na definição dos currículos. Essas variações de conteúdos dependem do aspecto regional onde estão implantados os cursos, assim como o perfil da formação dos profissionais envolvidos. Um exemplo disto, observado empiricamente, é a capacidade que o curso de História da Universidade Federal do Piauí tem em desenvolver a história-arqueológica; pois tanto possui profissionais preparados como em seu Estado reside um dos maiores sítios arqueológicos do país.
“Razões diversas podem, também, levar alguns programas a reforçar setores que, em outras instituições de ensino superior, encontram-se muito menos desenvolvidos. Assim a História da África Negra, por exemplo, que sem dúvida deveria estar mais presente entre nós, em alguns casos de fato está, enquanto em outros não conseguiu ainda estabelecer-se minimamente por falta de meios suficientes para tal. Setores como a História Antiga e Medieval, de difícil desenvolvimento devido à necessidade de aprendizagem de línguas ditas ‘mortas’ ou da associação Arqueologia/História, assumem dimensões e importância relativamente grandes em alguns programas, em que abrem opções específicas para os alunos já na graduação, mas não em outros, onde existem só minimamente.” (Parecer 492,p.07 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Especificamente sobre as Diretrizes Curriculares, este documento é composto por seis tópicos onde haverá uma delimitação genérica para o funcionamento das graduações e de seus conteúdos. No primeiro tópico, sobre o perfil dos formandos, assegura-se uma formação ampla, dentro dos limites da própria Instituição de Ensino Superior, porém que não perca o foco profissionalizante e que o profissional possa atender a demandas estabelecidas em sua região.
“O graduado deverá estar capacitado ao exercício do trabalho do Historiador, em todas as suas dimensões, o que supõe pleno conhecimento do domínio da natureza do conhecimento histórico e das práticas essenciais de sua produção e difusão. Atendidas estas exigências básicas e conforme as possibilidades, necessidades e interesses das IES, com formação complementar e interdisciplinar, o profissional estará em condições de suprir demandas sociais específicas relativas ao seu campo de conhecimento ...” (Parecer 492,p.07 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
No segundo item, sobre as competências e habilidades, distingui-se proposições gerais e as particulares à licenciatura. Onde, nas gerais, o domínio de diferentes concepções metodológicas e de relação tempo e espaço, o conhecimento de informações elementares sobre as diversas sociedades, e, as competências em informática, museus e de trânsito em outras áreas do conhecimento; faz-se imprescindível para o ofício do historiador.
“A) Gerais
a. Dominar as diferentes concepções metodológicas que referenciam a construção de categorias para a investigação e a análise das relações sócio-históricas;
b. Problematizar, nas múltiplas dimensões das experiências dos sujeitos históricos, a constituição de diferentes relações de tempo e espaço;
c. Conhecer as informações básicas referentes às diferentes épocas históricas nas várias tradições civilizatórias assim como sua inter-relação;
d. Transitar pelas fronteiras entre a História e outras áreas do conhecimento;
e. Desenvolver a pesquisa, a produção do conhecimento e sua difusão não só no âmbito acadêmico, mas também em instituições de ensino, museus, em órgãos de preservação de documentos e no desenvolvimento de políticas e projetos de gestão do Patrimônio Cultural;
Competência na utilização da informática.”
(Parecer 492,p.08 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
Sobre a estruturação de cursos, o documento da ampla liberdade na definição das objetivos e conteúdos dos cursos, assegurando, apenas, a formação do profissional em história.
“Os colegiados das instituições deverão estruturar seus cursos, programas, disciplinas, áreas, setores ou outras modalidades, de acordo com seus objetivos específicos, assegurada a plena formação do historiador. Deverão incluir no seu projeto pedagógico os critérios para o estabelecimento de disciplinas obrigatórias e optativas, das atividades acadêmicas do bacharelado e da licenciatura, e a sua forma de organização: modular, por crédito ou seriado. O curso de licenciatura deverá ser orientado também pela Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica em cursos de nível superior.” (Parecer 492,p.08 in http://portal.mec.gov.br/sesu/index.php?option=content&task=category§ionid=15&id=92&Itemid=306)
As definições encontradas para os conteúdos curriculares constituem orientações genéricas. Classificando algumas modalidades dos conteúdos, encarados como básicos e complementares para a formação do historiador. A primeira delimitação é a do conteúdo histórico/historiográfico, aquele que são próprios do ofício do historiador, entendendo a modificação da interpretação deste ofício ao longo da história do Brasil. A segunda refere-se a conteúdo que possibilitem uma maior especialização em determinada dinâmica ou problemática específica da instituição. Por exemplo, o curso de História da Universidade Federal da Bahia possui uma inclinação para os estudo sobre a escravidão no Brasil, logo o possibilita de inserir disciplinas sobre a História da África, da Escravidão e do Período Colonial com maior propriedade que outros cursos. Por último, conteúdos complementares, que municiem os graduados na capacidade de diferenciação entre sua área de conhecimento e as demais, porém sem perder a dinâmica de possibilidade da interdisciplinaridade.
“1. Conteúdos histórico/historiográficos e práticas de pesquisa que, sob diferentes matizes e concepções teórico-metodológicas, definem e problematizam os grandes recortes espaço-temporais.
2. Conteúdos que permitam tratamento especializado e maior verticalidade na abordagem dos temas, resguardadas as especificidades de cada instituição e dos profissionais que nelas atuam. As instituições devem assegurar que o graduando possa realizar atividades acadêmicas optativas em áreas correlatas de modo a consolidar a interlocução com outras áreas de conhecimento.
3. Conteúdos complementares que forneçam instrumentação mínima, permitindo a diferenciação de profissionais da área, tais como: atividades pedagógicas, fundamentos de arquivologia, de museologia, gerenciamento de patrimônio histórico, necessariamente acompanhadas de estágio ...” (p.9 *********** COLOCAR REFERÊNCIA)
Nos dois últimos itens, há um destaque para o funcionamento dos estágios e atividades complementares, onde os mesmos deverão ser desenvolvidos no interior dos próprios cursos de História. Assim como a necessidade dos cursos de criarem seus próprios critérios para avaliação periódica.
De acordo com o que foi analisado, pelas leis e documentos normativos do Ministério da Educação - MEC, não foi percebido uma determinação ou impossibilidade para a instalação de uma disciplina ou conteúdo similar ao conceito aqui elaborado de História Urbana do Presente. As normas do MEC, no tocante aos conteúdos curriculares, valorizam as autonomias das instituições, não interferindo exatamente sobre os conteúdos, apenas regulamentando no tocante à delimitação geral, definindo três eixos de conteúdos, como já expostos anteriormente.
A disciplina/conteúdo História Urbana do Presente – HUP – não foi encontrada em qualquer determinação da LDB, pareceres ou relatórios; porém, também não há uma delimitação do conteúdo específico da disciplina História Contemporânea. De acordo com as definições dos conteúdos, a HUP pode ser parte integrante dos três tipos de conteúdo apresentados pelo MEC, entendendo as autonomias e especificidades das instituições. O que nos coloca em questão é verificar se na cidade do Salvador, Bahia, há algum curso que insira dentro de alguma interpretação de conteúdo, o HUP.
4 Os cursos presenciais de história na cidade do Salvador, Bahia.
De acordo com levantamento realizado existem seis cursos de graduação em História em Salvador. Sendo eles: Licenciatura em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, Bacharelado em História pela UFBA, Licenciatura pela Universidade Católica do Salvador - UCSal, Bacharelado pela UCSal, História com Concentração e Patrimônio Cultural pela UCSal, Licenciatura de Curta Duração em História pela Faculdade Jorge Amado e a Licenciatura da Faculdade Mosteiro de São Bento. O curso de Licenciatura em História pela Faculdade Mosteiro de São Bento, porém apesar de autorizado pelo Ministério da Educação, de acordo com informações de sua secretaria (em visita realizada no dia 30 de janeiro deste ano), só será aberto para seleção no segundo semestre do ano de 2007; não estando assim ainda disponível a ementa da disciplina História Contemporânea. Há, ainda, a Licenciatura em História oferecido pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC, porém o mesmo é oferecido na modalidade Educação à Distância, não entrando no nosso quadro analítico.
Abaixo podemos perceber um quadro comparativo entre os cursos de graduação em História oferecidos em Salvador:
Curso
Modalidade
Duração
Carga Horária Total
Vagas
(anual)
Turno
Valor da Mensalidade
Licenciatura – UFBA
presencial
4 anos
2.280 h
25
matutino
gratuito
Bacharelado - UFBA
presencial
4 anos
2.595 h
25
matutino
gratuito
Licenciatura – UCSal
presencial
4 anos
3.185 h
50
noturno
R$698,00
Bacharelado - UCSal
presencial
4 anos
3.185 h
50
noturno
R$698,00
História com Patrimônio Cultural - UCSal
presencial
4 anos
3.590 h
100
vespertino
R$698,00
Licenciatura - FJA
presencial
3 anos
2.628 h
200
vespertino
e noturno
R$456,00
Licenciatura - FMSB
presencial
3 anos
2.920 h
100
noturno
não divulgado
Licenciatura - FTC
à distância
3 anos
2.800 h
não informado
flexível
R$250,00
Os dados acima foram obtidos em pesquisa empírica realizada no primeiro semestre do ano de 2006, o que pode ter sofrido algumas alterações em virtude de mudanças curriculares e/ou revisões na parte financeira dos cursos. A licenciatura em História da Faculdade Jorge Amado – FJA, só foi inserido a efeito de comparação geral, porém não comporá a pesquisa em questão.
Dentro do que foi observado, as licenciaturas e bacharelados da mesma instituição não apresentam diferenças significativas, a não ser no tocante ao cumprimento das diretrizes para cada habilitação. Em geral, quando da mesma instituição, há um quadro base onde os graduandos das duas habilitações cursam em conjunto, separando-se apenas no final do curso. Logo, as disciplinas de História Contemporânea não apresentam diferenças, dentro da mesma instituição, exceto na Universidade Católica do Salvador, onde a habilitação Patrimônio Cultural onde não há o aproveitamento da mesma disciplina das demais habilitações.
Podemos perceber também que em termos de carga horária e duração, os cursos de história da Universidade Federal da Bahia, apesar de se estenderem por quatro anos, possuem uma carga horária menor que o curso de Licenciatura da Faculdade Jorge Amado, que é realizado em apenas três anos. E, do ponto de vista financeiro, comparado aos da Universidade Católica do Salvador, apresenta um diferencial significativo com uma mensalidade em torno de trinta e cinco por cento menor. Em se tratando de quantidade de vagas anuais, as duas instituições particulares possuem a mesma disponibilização anual se compararmos a Licenciatura em História da Faculdade Jorge Amado e todos os cursos em História da Universidade Católica do Salvador.
4.1 Cursos de Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal da Bahia
“Ao historiador compete o estudo das sociedades humanas, sua organização e mudança. O profissional da História busca não apenas preencher pela pesquisa as lacunas na informação básica sobre as sociedades humanas, como também encontrar explicações generalizadas para os grandes processos de transformação histórica”. (ANEXO A)
Com esta perspectiva são definidos os perfis para os profissionais da Licenciatura e do Bacharelado do Curso de História da Universidade Federal da Bahia. Uma definição ampla, que não exclui, necessariamente, o estudo da História Urbana do Presente. O profissional a ser formado pela instituição deverá ter a capacidade de explicação dos fatos e processos históricos tanto pela pesquisa, quanto por explicações generalizadas.
Em nenhuma das matrizes curriculares, nem da Licenciatura, nem do Bacharelado, foi encontrada a disciplina História Urbana do Presente ou outra de cunho similar. Apesar das diferenças, os dois cursos utilizam, quando equivalentes, as mesmas ementas de disciplinas correlatas, formando turmas mistas. Conseguimos ter acesso às ementas das disciplinas História Contemporânea I e II. Previstas para os dois currículos (ver ANEXO A) as disciplinas tem por perspectivas:
“Recompor um panorama da evolução política, social e econômica do continente europeu na diversidade dos modelos que se consolidam e nos conflitos entre eles, que cristalizam os antagonismos e constituem as várias situações de guerra.” (História Contemporânea I, ANEXO C)
“Estudo dos aspectos principais da natureza do desenvolvimento do capitalismo no século XX: Primeira Guerra Mundial; Revolução Russa de 1917; a experiência do stalinismo e da burocratização; ascensão e queda do nazi-fascismo; revoluções e crises dos anos 20, 30 e 40; a Segunda Guerra Mundial; o pós-guerra; a crise do leste europeu; a crise da modernização capitalista.” (História Contemporânea II, ANEXO D)
Estas duas disciplinas são as que mais se aproximam, do ponto de vista dos objetivos, com a proposta da História Urbana do Presente – HUP. Tendo em vista que está incutida a análise das transformações do mundo contemporâneo até a crise da modernização capitalista. Apesar disso quando observamos os conteúdos das mesmas podemos notar que interrompem o estudo no passado recente das decorrências da queda do Muro de Berlim, na Alemanha. O que não implica em estudar a história do presente enquanto também decorrente deste passado recente. Abaixo os conteúdos das disciplinas:
“Unidade I (...)
1- Napoleão Bonaparte: uma trajetória. A economia e a geopolítica européia ao tempo do bloqueio continental. O bonapartismo como modelo de regime autoritário.
2- O Congresso de Viena e a Nova Ordem Mundial. A Santa Aliança, a Quádrupla Aliança e o sistema de intervenções contra-revolucionárias. Legítimismo, conservadorismo e clericalismo na Europa do século XIX.
3- As ondas revolucionárias da primeira metade do século XIX: anos 20, anos 30 e 1848. Liberalismo, nacionalismo e socialismo na Europa. (...)
Unidade II (...)
1- Industrialização e urbanização. Cultura Ciência e tecnologia no mundo industrial.
2- A unificação alemã. Do Zollverein à Guerra Franco Prussiana. Europa Central X Europa Ocidental, modelos antagônicos?
3- A expansão do capitalismo europeu. A formação dos impérios coloniais contemporâneos. Imperialismo, colonialismo e racismo. (...)
Unidade III (...)
1- A formação das classes trabalhadoras na Inglaterra: do ludismo ao cartismo ou o encanto de Marx.
2- As revoluções dos franceses: a Revolução de 1848 e a Comuna de Paris. Os sonhos dos trabalhadores ou as ideologias revolucionárias: socialismo, anarquismo e comunismo.” (História Contemporânea I, ANEXO C)
“1. A natureza do desenvolvimento do capitalismo no século XX
2. A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa de 1917
2.1 Da democracia dos soviets à ditadura stalinista
3. Anos de crise e de Revolução
3.1 A crise de 1929
3.2 A Ascensão do nazi-fascismo
3.3 A Revolução Espanhola
3.4 A Segunda Guerra Mundial
3.5 A Revolução Chinesa
4. Da Guerra Fria à crise do leste europeu
4.1 A nova ordem econômica do pós-guerra
4.2 Origens, natureza e desenvolvimento da Guerra Fria
4.3 A crise do Leste Europeu
4.4 O colapso da modernização.” (História Contemporânea II, ANEXO D)
4.2- Cursos de Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Católica do Salvador
Os cursos de Licenciatura e Bacharelado da Universidade Católica do Salvador depois de passarem pela última reestruturação fizeram uma readaptação de seus objetivos com a perspectiva de se adequar às Diretrizes Nacionais, de acordo com o documento da reforma curricular (ANEXO I). Ocorreu também uma unificação dos cursos de Licenciatura e Bacharelado, apesar da possibilidade de formatura dissociada.
Dentro das perspectivas do perfil do profissional, convém destacar uma visão ampla, de formação com interdisciplinaridade e com múltiplas concepções. Como pode-se observar abaixo:
“(...) Um profissional de História capaz de interagir com várias áreas do conhecimento, através de uma sólida formação interdisciplinar, procurando alargar as dimensões de trabalho do historiador em diferentes demandas da sociedade, investigação histórica, ensino, preservação do patrimônio cultural, assessoria a produções econômicas, políticas, turísticas e culturais, assessoria a movimentos políticos e sociais.“ (ANEXO E)
Apesar deste enunciado, não pudemos encontrar disciplinas que estude a história do presente das cidades, de seus movimentos e de seus processos iniciados, muitas vezes, num passado recente e culminando no imediato. De fato é salutar a presença de disciplinas como antropologia, sociologia educação e arquivologia, pois são áreas do conhecimento que tem ampla intercomunicação com a história. Porém não é trazido dentro do corpo das disciplinas obrigatórias o campo de estudo que é objeto desta pesquisa.
Sobre as ementas, para os cursos de Licenciatura e Bacharelado da UCSal as disciplinas História Contemporânea I e II, são as únicas que, numa análise preliminar das matrizes curriculares, possibilitam a discussão sobre a História Urbana do Presente.
De acordo com a ementa da disciplina História Contemporânea I, os objetivos da referida disciplina residem na análise do desenvolvimento do modo de produção capitalista e de seu movimento contra-hegemônico, os movimentos sociais. O período trabalhado é do século XIX até o começo do século XX. Como se pode perceber abaixo:
“Analisar o desenvolvimento do sistema capitalista e a formação do movimento operário, ressaltando as relações histórico-culturais que se estabeleceram durante o século XIX. Observar os processos históricos referentes ao período e, através de diferentes abordagens, enveredar pelas representações culturais e construções dos sujeitos históricos. Analisar as diferentes vertentes historiográficas e categorias analíticas deste recorte, salientando ´particularmente e generalizações teóricas, ale de adentrar no campo literário por sua imensa riqueza documentação sobre o século XIX.” (ANEXO G)
O conteúdo da disciplina se debruça em grande medida no século XIX, buscando compreender o avanço do capitalismo e seus movimentos de reação. Tanto do ponto de vista de movimentos organizados como o ludismo, quanto a constituição teórica do socialismo utópico de Saint-Simon e Fourier, do comunismo de Karl Marx e Frederich Engels e do anarquismo de Proudhon e Bakunin. Além de discutir a unificação dos Estados Nacionais e a formação dos imperialismos, culminando com as guerras mundiais do século XX.
“1. O longo século XIX: abordagens históricas.
2. Reação e Revolução
2.1 A política do Congresso de Viena e os valores da reação.
3. Movimento operário, cultura e representações.
4. As relações internacionais da segunda metade do século XIX até a Primeira Guerra Mundial.
4.1 As transformações sociais da era da máquina
4.2 A política das nacionalidades: unificação da Itália e da Alemanha
4.3 O imperialismo e a era das crises
4.5 As relações internacionais” (ANEXO G)
Apesar desta análise aprofundada sobre a formação de processos sociais que influenciaram e influenciam decisivamente no tempo presente, a disciplina não contempla o estudo da história urbana do presente.
Já a disciplina História Contemporânea II da UCSal, é a que se próxima mais da discussão sugerida pela História Urbana do Presente (HUP). Não que seja o foco central de sua ementa, porém abre a possibilidade da discussão dos conflitos sociais atuais frutos do desenvolvimento do capitalismo. O que é o central da discussão sobre a HUP.
“Analisar as transformações do mundo contemporâneo, ressaltando as relações histórico-culturais, que se estabeleceram durante o século XX. Além disso, buscar inserir as representações culturais e as suas respectivas vertentes historiográficas. Observa, através de diferentes categorias, a relação dos sujeitos históricos e os caminhos percorridos ao longo de um período repleto de guerras, revoluções, conquistas e novas fronteiras.” (ANEXO H)
Quanto ao seu conteúdo, a disciplina aborda as questões pertinentes ao começo do século XX na Europa e Estados Unidos, dentre elas os principais movimentos políticos e revoluções que desencadearam a socialismo, o nazismo e o fascismo. Prossegue explanando sobre as crises a partir da década de trinta e a conseqüente Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria, a bipolarização mundial e a ulterior queda do muro de Berlim, também fazem parte. Além, como já foi dito, da preocupação com os conflitos na sociedade atual.
“1. Os anos vinte na Europa e EUA
1.1 A Revolução Russa
1.2 A Reconstrução da Europa Ocidental
1.3 O fascismo italiano
1.4 O nazismo alemão
2. O mundo na década de trinta
2.1 A crise de 1929 nos EUA e no mundo
2.2 O segundo conflito mundial
2.2.1 antecedentes
2.2.2 desenvolvimento
2.2.3 acordos e conferências de paz
2.2.4 nova fórmula de equilíbrio mundial: a ONU
3. O após 2ª Guerra Mundial
3.1 A bipolarização, caracterização, motivação e efeitos
3.2 Desenvolvimento e subdesenvolvimento no mundo contemporâneo
3.3 A cultura contemporânea
3.4 Relações internacionais e conflitos atuais
3.5 Guerra Fria e pós-modernidade: o fim de um breve século” (ANEXO H)
4.3- Curso de História com Concentração em Patrimônio Cultural pela Universidade Católica do Salvador
O curso de História com Concentração em Patrimônio Cultural, após reformulações, foi definido como Licenciatura e bacharelado. Diferentemente dos demais cursos da própria Universidade Católica do Salvador, o curso busca dar uma ênfase nos estudos do Patrimônio Cultural no contexto de uma cidade marcada por atrativos turísticos deste cunho, que movimentam decisivamente a economia da capital baiana.
De acordo com a própria definição da instituição:
“O curso propicia a formação de profissionais para a pesquisa, magistério do Ensino Fundamental e Médio, para a consultoria, assessoria e gestão em atividades relacionadas ao ofício do Historiador e ao Patrimônio Artístico, Ambiental, Histórico e Cultural. O curso busca, na relação patrimônio/cidadania, construir diálogos entre os saberes históricos, as comunidades e o patrimônio que se preserva e se constrói, procurando entendê-los sempre nos desdobramentos da vida em sociedade, em sua diversidade e multiplicidade de práticas sociais.” (ANEXO J)
De acordo com sua matriz curricular (ver ANEXO L) o curso oferece duas disciplinas que poderiam dialogar com a História Urbana do Presente (HUP). A disciplina Era Contemporânea, obrigatória, e a disciplina História, Cidade e Urbanismo, optativa. Em visita realizada à instituição no dia 30 de janeiro de 2007, a secretaria do curso nos informou de que a disciplina optativa História, Cidade e Urbanismo não tinha sido oferecida desde a implementação do curso. Sendo assim, a ementa não estaria disponível para ser consultada.
A disciplina Era Contemporânea, apesar de possuir apenas sessenta horas de carga horária total, condensa os conteúdos das disciplinas História Contemporânea I e II (de sessenta horas cada uma) dos cursos de Licenciatura e Bacharelado da UCSal. Dentro de sua ementa, encontram-se conteúdos que iniciam no século XIX e terminam em conflitos atuais.
“Conceitos relativos a História Contemporânea, cultura e representação a partir da segunda metade do século XIX e o seu desenrolar no século XX. Análise dos desdobramentos da Primeira Guerra Mundial seus aspectos sócio-culturais. A Crise de 1929, passando pelas causas e conseqüências da Segunda Guerra Mundial, a re-divisão do mundo e os conflitos atuais.” (ANEXO M)
Seu conteúdo também permite o diálogo com a História Urbana do Presente, apesar de não ser seu foco central, e o tempo para tal ser bastante reduzido em virtude da perceptível compressão de assuntos numa carga horária de apenas sessenta horas. Como veremos abaixo os conteúdos da disciplina Era Contemporânea correspondem à fusão entre a disciplina História Contemporânea I e II dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em História pela UCSal.
“As relações internacionais da segunda metade do século XIX até a Primeira Guerra Mundial.
1.1 As transformações sociais da era da máquina
1.2 A política das nacionalidades: unificação da Itália e da Alemanha
1.3 O imperialismo e a era das crises
1.4 A primeira guerra mundial
1.5 As relações internacionais
Os anos vinte na Europa e EUA
1.6 A Revolução Russa
1.7 A Reconstrução da Europa Ocidental
1.8 O fascismo italiano
1.9 O nazismo alemão
O mundo na década de trinta
1.10 A crise de 1929 nos EUA e no mundo
1.11 O segundo conflito mundial
1.11.1 antecedentes
1.11.2 desenvolvimento
1.11.3 acordos e conferências de paz
1.11.4 nova fórmula de equilíbrio mundial: a ONU
O após 2ª Guerra Mundial
1.12 A bipolarização, caracterização, motivação e efeitos
1.13 Desenvolvimento e subdesenvolvimento no mundo contemporâneo
1.14 A cultura contemporânea
31.15 Relações internacionais e conflitos atuais” (ANEXO M)
4.4- Curso de Licenciatura em História pela Faculdade Jorge Amado
O curso de Licenciatura em História pela Faculdade Jorge Amado tem por objetivo a formação de professores. Somente é oferecida a Licenciatura, porém o que não significa que a instituição não esteja atenta à necessidade de formar profissionais da área com a sensibilidade para com a pesquisa, assim como para os diversos novos segmentos da profissão como já discutidos anteriormente. Como se pode perceber abaixo:
“A licenciatura em História do Instituto Superior de Educação das Faculdades Jorge Amado é um curso de graduação que está organizado – tanto no que se refere aos programas quanto aos métodos – para formar um professor atento às mudanças e aos desafios que a sociedade experimenta, compromissado para intervir na construção de um novo quadro no ensino da história.
Para tal, sustentamos a necessidade do licenciado ter uma formação que contemple o conhecimento e a reflexão da ciência histórica – bem como seu papel social -, do aluno e, por conseguinte, do contexto escolar.” (ANEXO N)
Em análise feita da matriz curricular do referido curso, observamos a existência de três disciplinas sobre História Contemporânea (I, II e III). Uma característica peculiar comparando as demais matrizes dos cursos de história da cidade do Salvador. Todavia, não foi detectado, dentro das disciplinas disponibilizadas pela matriz qualquer outra disciplina que pudesse dialogar com o conteúdo de História Urbana do Presente.
As ementas das disciplinas História Contemporânea I e II, seguem basicamente as mesmas orientações que definem estas disciplinas nos outros cursos estudados, se atendo ao estudo desde o século XIX do desenvolvimento do capitalismo, da formação de movimentos operários, assim como a compreensão dos processos de crises e guerras. Chegando até à bipolarização mundial e a queda do Muro de Berlim.
“Analisar o desenvolvimento do sistema capitalista e a formação do movimento operário, ressaltando as relações histórico-culturais que se estabeleceram durante o século XIX. Observar os processos históricos referentes ao período e, através de diferentes abordagens, enveredar pelas representações culturais e construções dos sujeitos históricos. Analisar as diferentes vertentes historiográficas e categorias analíticas deste recorte, salientando particularidades e generalizações teóricas, além de adentrar no campo literário por sua imensa riqueza e documentação sobre o século XIX.” ( ANEXO P)
“Considerando que a disciplina História Contemporânea II aborda temáticas, conceitos e interpretações historiográficas referentes a processos sociais ocorridos ao longo da primeira metade do século X, tais como guerras, revoluções, movimentos políticos e estético-literários, a referida disciplina é relevante para a formação geral dos futuros profissionais do ensino de história.” (ANEXO Q)
Foi percebido que as disciplinas História Contemporânea I e II não possibilitam o diálogo com o conteúdo História Urbana do Presente. Na disciplina História Contemporânea III, como veremos abaixo, pode-se identificar certa abertura para a discussão da realidade histórica atual. O que em si constitui um avanço frente às outras disciplinas do mesmo curso, porém não que seja, necessariamente, o foco da disciplina o estudo da problemática urbana atual. Contudo não podemos deixar de considerar a possibilidade disto ser desenvolvido, até porque a disciplina tem por pretensão estimular o conhecimento da oralidade enquanto fonte de pesquisa. Uma das principais fontes da História Urbana do Presente.
“Este curso discute e compreende os principais eventos históricos que marcaram a história contemporânea, desde o início da Guerra Fria até a chamada Nova Ordem Internacional, colocando-os em relação e procurando suas conexões com a história brasileira e com a realidade histórica atual. Do ponto de vista metodológico, o curso traz ao debate a prática da história oral. Especialmente valiosa no que se trata de compreendermos a história contemporânea. Além disso, serão conduzidas atividades com documentação não convencional para a análise histórica, como cinema e música.” (ANEXO R)
4.5- Curso de Licenciatura em História da Faculdade Mosteiro de São Bento
O curso de Licenciatura em História da Faculdade Mosteiro de São Bento – FMSB, recentemente aprovado pela Portaria 904 de 2006, ainda não iniciou suas atividades de ensino com os discentes. O que está previsto, de acordo com informações obtidas na secretaria do curso no dia 30 de janeiro de 2007, no início do segundo semestre deste ano. Apesar de não estar ainda disponível a ementa da disciplina História Contemporânea, faremos uma exposição superficial sobre o curso baseando-se com os objetivos e a matriz curricular disponibilizadas pelo portal eletrônico da instituição.
O curso apesar de enfocar a formação do professor, assegura em seus objetivos uma formação ampla do profissional de história. Fazendo com que o mesmo além de dialogar com a pesquisa, seja capaz de estar apto às tendências da profissão expostas na Diretriz Curricular Nacional (já estudada anteriormente nesta pesquisa). Como podemos ver abaixo:
“A relevância social crescente da História nas últimas décadas propiciou a ampliação do campo de trabalho do historiador, anteriormente restrito ao exercício da docência no ensino fundamental e médio e ao exercício da docência no ensino superior, associada à pesquisa e à qualificação profissional. Esta visão se encontra superada, em primeiro lugar, porque a pesquisa e a qualificação são inerentes à docência, estando necessariamente presentes no exercício da profissão em qualquer nível ou modalidade de ensino; em segundo lugar, porque a reflexão acerca da História remete para uma série de outras questões, igualmente relevantes para a formação do historiador, tais como: preservação e valorização do patrimônio artístico e cultural, conservação de documentos escritos, orais e iconográficos, gerenciamento de informações, catalogação de fontes, organização de acervos, assessoria a projetos culturais e turísticos etc.” (ANEXO S)
A matriz curricular destina apenas uma disciplina de História Contemporânea no quarto semestre do curso, apesar da mesma possuir uma carga horária total de oitenta horas (superior às da UCSal). Infelizmente não foi possível verificar os objetivos e conteúdos desta disciplina, nem tão pouco verificamos a existência de outra disciplina que pudesse dialogar o conteúdo de História Urbana do Presente.
5- Considerações finais
“A história é a história do homem, visto como um ser social, vivendo em sociedade. É a história das transformações humanas, desde o seu aparecimento na terra até os dias em que estamos vivendo. Desde o início, portanto, pode-se tirar uma conclusão fundamental: quer saibamos ou não, quer aceitemos ou não, somos parte da história, e todos desempenhamos nela um papel. E temos todos, desde que nascemos, uma ação concreta a desempenhar nela.” (BORGES.p.48)
Lançamos neste trabalho uma discussão sobre um dos campos de estudo que compõem o ofício do historiador, o do presente. Como Borges define, o estudo dos primórdios de nossa espécie até a atualidade. A inquietação que gerou a problemática desta pesquisa foi exatamente a preocupação com que tipo de profissionais os cursos de história em Salvador estavam formando. No aspecto referente à preocupação de despertar no historiador a preocupação em tomar para si o estudo da problemática urbana atual.
A formação do autor deste texto, em nível de graduação, não despertou a sensibilidade para a pertinência destes problemas. Como se não fizesse parte do estudo do profissional de história a realidade em que está inserido, o estudo de seu próprio contexto. E em nosso entendimento a instituição tem um papel de suma importância, por ser ela, dentro do processo de ensino-aprendizagem, junto com os professores que a compõem, o sujeito mais experiente na construção do conhecimento. Sendo assim, a formação dos conteúdos das disciplinas, e em particular de História Contemporânea, devem inserir em seus conteúdos o estudo que propusemos.
De acordo com o estudo realizado, percebemos que do ponto de vista da legislação, apesar de ocorrer um avanço significativo na compreensão do perfil do historiador e de sua respectiva mudança ao longo da história do ofício no Brasil; não há uma imposição para a delimitação do conteúdo das disciplinas. Há um respeito às especificidades locais e regionais onde estão inseridas as regiões, assim como uma preocupação com a autonomia das instituições na deliberação de seus currículos. Portanto não foi encontrada uma determinação sobre a necessidade do estudo da História Urbana do Presente nos conteúdos das disciplinas de História Contemporânea.
Dos cursos de história de Salvador, os de Licenciatura e Bacharelado pela Universidade Federal da Bahia não apresentaram em suas disciplinas sobre a História Contemporânea qualquer possibilidade de interface com o conteúdo de História Urbana do Presente (HUP), apesar de compreender o processo de desenvolvimento da sociedade capitalista.
Sobre os cursos de Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Católica do Salvador percebemos que, com a reforma curricular realizada, apesar da primeira disciplina de história contemporânea não dialogar com a HUP, a segunda abre a possibilidade disto ocorrer. Já no curso de História com Concentração em Patrimônio Cultural, apesar da disciplina Era Contemporânea aparentemente apresentar pouco tempo para suprir os conteúdos de duas disciplinas de história contemporânea, também apresentam a possibilidade de trabalhar com o conteúdo da HUP.
A Faculdade Jorge Amado é a que disponibiliza ao discente o maior número de disciplinas sobre a história contemporânea, três. E cada qual com uma carga horária de setenta e duas horas, relativamente grande comparado a outras instituições. Apesar da primeira e segunda não permitirem stricto senso a relação com a atualidade, a terceira o faz. E, dentro do que foi estudado é a disciplina de história contemporânea que mais estabelece interface com o estudo da história vivenciada por seus próprios sujeitos. Apesar de não restringir o estudo à problemática urbana.
Como afirmamos desde o princípio, este estudo optou por uma metodologia materialista dialética de análise. O que implicou no lançamento inicial de uma hipótese provisória que nortearia, e norteou, a pesquisa. Tendo sido formulada a partir não só da vivência prática deste autor, mas, também a partir de um estudo inicial realizado.
Sendo assim, para a problemática lançada inicialmente na pesquisa: Existe nas disciplinas de História Contemporânea das graduações em História de Salvador o conteúdo da História Urbana do Presente? A resposta é negativa, porém com ressalvas. A ressalva reside no fato de que apesar de não ter sido encontrada explicitamente nenhuma disciplina com a nomenclatura História Urbana do Presente - HUP, nas disciplinas de História Contemporânea observamos brechas, possibilidades deste estudo, apesar de nenhuma ter registrado em seus conteúdos ou ementas a preocupação com a problemática urbana atual. Somente a preocupação com conflitos da atualidade, onde a HUP pode ser trabalhada, apesar de não ser o foco da disciplina. Somente na disciplina História Contemporânea III da Faculdade Jorge Amado a abordagem principal é sobre a atualidade, apesar de não necessariamente enfocar a problemática das cidades.
Apesar desta conclusão, nossa hipótese provisória precisa ser reformulada, tendo em vista que a tendência ao conservadorismo por parte da historiografia brasileira, em nossa avaliação, passa por um período de revisão, de crítica e autocrítica. Que se dá desde as instâncias governamentais, na formulação das diretrizes curriculares, até as Instituições de Ensino Superior. Porém o que não implica dizer, necessariamente, que este processo tenha chegado a superar todas as suas contradições. Até porque não percebemos, na delimitação documental das disciplinas nos cursos estudados, a relevância do estudo da problemática atual das cidades.
Ao mesmo tempo, nosso estudo percebeu a necessidade de aprofundar a pesquisa, mesmo que em outros níveis da pós-graduação, como mestrado ou doutorado. Tendo em vista que outras problemáticas surgiram no decorrer da pesquisa. Como por exemplo, em relação à autonomia que o professor possui no exercício de sua disciplina, será que o mesmo não cria condições para o estudo da problemática urbana? Ou ainda, será que as disciplinas de História do Brasil não poderiam se preocupar com a História Urbana do Presente, apesar da delimitação do estudo da sociedade brasileira?
Estas indagações ao final de uma pesquisa só são possíveis a partir da adoção de um método de investigação e análise que reconheça os limites da ciência, que compreenda que as verdades e o conhecimento não são absolutos. Estão sujeitos também à sua temporalidade, ao contexto do próprio pesquisador que, acima de tudo é humano; e por sê-lo e, também, responsável pela construção da ciência deve possuir a humildade proposta há muito tempo pelo filósofo Sócrates, que ao final de seus estudos chegava à conclusão de que: “Só sei que nada sei”.
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[1] Graduado em História, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano, ex-bolsista da CAPES, atualmente é professor da Fundação Visconde de Cairu e Educador em Comunidades Quilombolas. raphaelcloux2@yahoo.com.br, raphaelcloux@click21.com.br