16 maio 2008

Tópicos sobre a História da Chapada Diamantina

Apesar de tradicionalmente Chapada Diamantina ser associada aos roteiros turísticos mais conhecidos em quatro municípios, Lençóis, Andaraí, Mucugê e Palmeiras; esta região é composta por mais de cinqüenta municípios baianos. Sua formação teve a influência de alguns fatores, sem os quais, provavelmente, não proporcionariam as idiossincrasias transformadas em atrativos turísticos atuais, dentre os quais alguns serão apontados a seguir.

Povoamento da Chapada Diamantina
Convém destacar aqui que a história do Brasil não se inicia com a chegada dos portugueses, muito pelo contrário, da chegada dos portugueses para os dias de hoje perfazem pouco mais de 500 anos. Porém já foram achados fósseis humanos que comiam farinha de mandioca no Brasil que datam de mais de 30 mil anos, especificamente na chapada estudos indicam algum tipo de presença humana de 300 mil anos atrás. Não significa dizer que contar a história destas populações anteriores à chegada dos europeus seja tarefa fácil, pois não existem registros escritos. Mesmo assim, uma das fontes que já vem sendo utilizadas são as pinturas rupestres, muito encontradas nas cavernas da Chapada Diamantina.

Quando os portugueses começaram a adentrar na região da Chapada Diamantina, se depararam, dentre outras etnias indígenas, com a Nação Tapuia; muito numerosa na região. Também chamados por Aimorés ou Botocudos, ficaram muito conhecidos pela utilização de botoques nos lábios e orelhas. A partir dos sete anos de idade as crianças já tinham seus lábios e orelhas perfurados e inseridos botoques que iam aumentando de tamanho conforme a idade, seriam como os piercing atuais, mas tido pelos Tapuias como um elemento de identidade da nação, de força e de beleza. Essa nação indígena cultuava os espíritos encantados das matas, hoje absorvido pelo candomblé congo-angola como os caboclos.

(índios Botocudos – Tapuias – Aimorés)

Provavelmente foi por volta da primeira metade do século XVII que os portugueses através das Entradas (ou Bandeiras) “desbravaram” a região da Chapada. A principal motivação deste “desbravamento” era localizar ouro, metais ou pedras preciosas, para serem saqueados e levados para a Coroa Portuguesa. Os rios foram as principais “estradas” para aquela aventura portuguesa, dentre eles, os mais importantes para a chegada na chapada foram o Paraguaçu e o São Francisco.

Em história nem sempre é possível afirmar com absoluta certeza datas e acontecimentos, mas é possível que os primeiros Arraiais e Vilas naquela região datem do final do século XVII e início do XVIII. Naquele período ficaram emblemáticas as figuras do Bandeirante, dos Garimpeiros, dos Jesuítas, dos Colonos e dos Sertanistas. Os Bandeirantes “desbravavam”, os garimpeiros procuravam as riquezas nos leitos dos rios, os jesuítas catequizavam os índios, os colonos plantavam e comercializavam e os sertanistas criavam animais para alimento e transporte.


Ciclo do Ouro e Diamante e Fundação das Cidades de Rio de Contas, Mucugê, Lençóis, Andaraí e Palmeiras

O primeiro achado de minas de ouro, diferente do “ouro de aluvião” (de leito de rios), foi na atual cidade de Jacobina no final do século XVII. Já na chapada, por volta de 1718, em Rio de Contas foram localizados os primeiros achados auríferos. Como foi dito anteriormente, é provável a existência de ouro na região da chapada ainda no século XVII, porém não há fontes que comprovem isso. Rio de Contas foi criado em 1723 como Arraial do atual município de Jacobina, e em 1746 foi criado o município de Santíssimo Sacramento de Rio de Contas.

No que se refere ao diamante, novamente foi em Jacobina, em 1732, os primeiros achados. Na região da chapada entre 1817 e 1818 foram encontradas as primeiras pedras de diamante nas Lavras Diamantina, onde se encontram os atuais municípios de Mucugê, Andaraí, Lençóis e Palmeiras. Essas quatro cidades foram criadas em virtude do ciclo do diamante, graças às bateias dos garimpeiros e posteriormente dos demais personagens que foram sendo agregados. Primeiro era formado o acampamento, muito improvisado e rudimentar, depois o Arraial, a Vila e a Cidade. Outro mineral encontrado na região foi o carbonato, desprezado inicialmente por sua coloração escura e aparentemente sem valor, passou a ser vendido para os fabricantes de brocas de perfuração de rocha, trazendo muita riqueza. Os produtos agrícolas, como o café, passaram a ter importância maior quando o ciclo do diamante começou a entrar em crise.

Das quatro cidades citadas, a primeira a ser fundada foi Mucugê, desmembrada do município de Rio de contas, tornou-se em 1847 sede da freguesia de São João do Paraguaçu, porém com o nome de Vila de Santa Isabel do Paraguaçu; somente a partir de 1917 passa a ser intitulada como município de Mucugê. A Comercial Vila de Lençóis foi criada no ano de 1856, em 1885 era fundado o município de Andaraí, ambos fruto do desmembramento de Mucugê. Já o município de Vila Bela das Palmeiras foi fundado em 1930, antes pertencente a Lençóis.

A Coluna Prestes na Bahia e o Coronel Horácio de Matos
A organização sócio-política da região da chapada diamantina durante muitas décadas foi regida pelo coronealismo oligárquico. Esta forma de organização sócio-política consistia na manutenção do poder político e social nas mãos de uma minoria proprietária de terras (de lavras de ouro e diamante, e de agricultura) e controladora do comércio. Essa minoria (oligarquia) perpetuava seu domínio mesmo em períodos democráticos, através de corrupção, fraudes eleitorais, do apadrinhamento político, seqüestros e assassinatos. Quem detinha o poder de polícia era o coronel (indicado pelo governador), normalmente um oligarca, que através dos jagunços colocava a sua lei e ordem.

A Coluna Prestes, liderada por Luiz Carlos Prestes, foi um movimento político armado encabeçado pela base do exército (mais de 6.000 homens entre soldados, tenentes e capitães) que se rebelaram dos comandantes das forças armadas e do governo federal com o intuito de acabar com o regime oligarca e coronealista do Brasil. Eles marcharam do Sul ao Norte do país empreendendo guerras contras os coronéis para acabar com o seu poder. Ao chegarem à Bahia depois de muitas vitórias, foram derrotados pelas tropas de jagunços do coronel baiano Horácio de Matos, que chegou a ser Delegado Regional e Senador Estadual. Mesmo derrotada a Coluna Prestes, Horácio de Matos foi morto pelas tropas prestistas e Luiz Carlos Prestes participou da luta contra os sistemas de exploração da sociedade brasileira até a eleição de 1989, chegou a ser deputado e senador pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ficou imortalizado na obra de Jorge Amado Cavaleiro da Esperança.
Autor: Raphael Fontes Cloux

Indicações para Leitura:
CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos Índios no Brasil
TAVARES, Luiz Henrique Dias. História da Bahia
BANDEIRA, Renato Luís. Chapada Diamantina, história riquezas e encantos